segunda-feira, 22 de maio de 2017

Asas da arte da perda

Após a duras penas aprender a arte da perda
Liberto meu espírito à dança das borboletas.
Alada, livre de meu casulo,
com a fome de viver das asas de vida breve,
ponho-me, como lua, ao mergulhar no anoitecer escuro
do mar de aura leve
com a transcendência que além da filosofia mora.
E então, renasço como aurora.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Moro em uma cidade de pianos desafinados

Moro em uma cidade de pianos desafinados
Ruas esburacadas
Mesmo com praias de boas-vindas
E algumas coisas lindas.

Moro em uma cidade de pianos desafinados
Desigualdade por todos os lados
Os esforçados pianos públicos desafinam em um Mi de agonia
E até os arrumados pianos da burguesia
Desafinam em um Lá de realidade em desarmonia

Moro em uma cidade de pianos desafinados
E até, em certo dia, toquei em um hospital
Mesmo alegre pelo som dos aplausos
O piano eclodia uma rebeldia quase brutal:
Além da desafinação em quase toda a sua extensão,
era impossível tirar som do dó central.
O Dó lembrava do grito silencioso da dor
daqueles aos quais, sem dó,
não foram concedidas condições para se tratar ali
mesmo que a dor seja tão universal quanto a condição humana em Si. 

Por fim, percebi,
que moro em um piano,
que uns teimam em chamar de mundo,
cujas cordas foram desafinadamente afinadas
em pressões desiguais e que, por vezes, se recusam a rimar.
Um piano com algumas esburacadas teclas quebradas
em uma bela cidade desafinada.