sábado, 26 de junho de 2010

O abrir de portas de um condenado

Ele abriu as portas do inferno
Visualizou seu céu interno
mesmo que de maneira tardia
Uma desarmônica amelodia
Os últimos passos foram dados
os últimos suspiros, suspirados
Restava apenas caminhar
até o final
Esperançar
afinal.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Odisséia reflexiva de um ser

Perguntaram a garota
com alguma gota
de normalidade
se ela tinha maturidade

Ela respondeu
no interior de seu eu
Reflexões
Omissões
ao exterior
Amor
ou talvez algo perdido
a algo que já tenha sido

Em sua infância
ela era séria
quase uma infâmia
dúvida etérea

Uma criança que achava
que o certo era ser séria
Uma adulta que ousava
sendo quase aérea

A garota abriu os olhos
decididos olhos
Respondeu que a maturidade
independia do exterior
assim como o acumulo da idade
independe do interior

A menina saiu
separada de seu sorriso
algo de seu ser fluiu
E colocou no asilo
seu ser exterior
imaginou como seria
ser como os outros queriam; desalegria
sentiu com ardor

O que ela era?
Ela não sabia
simplesmente era
Melodia
não precisa se explicar
apenas é
Estar
Viver
Sentir
Simples e complexo assim

sábado, 5 de junho de 2010

Ahumanidade

Foram vários os motivos que tornaram Maria Lucia ahumana. O primeiro provavelmente foi aos 5 anos, quando ela, ao olhar na janela de sua casa, viu 6 garotos se divertindo  torturando e matando um pobre cachorro vira-lata. Era um belo vira-lata, tinha pêlos de 3 cores diferentes, uma bela pelagem, tinha olhos inocententes de um ser que apenas estava começando a conhecer as maldades do mundo. O sangue do pobre vira-lata estava avermelhando o cenário, seus latidos desesperados que se misturavam com as risadas dos meninos transtornavam Maria Lucia.Em vãoela  correu o mais rápido possível enquanto suas lágrimas escorriam em seus rosto infantil. O chegar na cena do crime os meninos deram a última pedrada e o cachorro deu seu último latido. Maria Lucia empurrou o menino o mais forte que seus braços infantis conseguiram e acaricinhou a cabeça do vira-lata, seus braçinhos abraçaram aquela cabeça cujos olhos que não viam mais ainda estavam abertos. Ela beijou aquele sofredor, e se perguntou em sua inocencia infatil porque ele não estava mais se movendo. Ela não conseguia entender que a linha que o segurava a esse mundo tinha sido rompida. Os meninos correram rapidamente deixando a menina a sós com o vira-lata. Seus pais, com faces preocupadas, perceberam que Maria Lucia não estava mais em casa. Ao encontrarem, ela estava com o vestido branco tornado vermelho com o sangue do vira-lata, e  seus rostinho infantil duplamente vermelho, das lágrimas e do sangue. Seus pai logo a puxaram, ela queria continuar abraçada ao cachorro. Enquanto mamãe dizia: "Ele está morto, minha querida, ele está morto... não há nada que possamos fazer...". Maria Lucia gritava em soluços "Mamãe eu vi garotos batendo nele com uma pedra mamãe... Afugentei eles, achei que ele não iria morrer com as pedradas... só ficar machucado... Mas que como nos desenhos animados ele voltaria...". Sua mãe respondia enquanto a acaricinhava e aninhava em seu colo "A vida as vezes é difenrente dos desenhos... Os animais e as pessoas morrerm e vão para o céu...".

Mas aquela horrível cena nunca saiu da mente de Maria Lucia.

Aos 12 ela viu seus pais serem brutalmente assasinados quando assaltantes explodiram a porta de sua casa para roubar 10 mil reais(pois boatos circulavvam dizendo que o casal adquirira essa quantia em um sorteio). Maria Lucia só não foi igualmente assasinada porque, quando sua mãe recebeu a primeira facada, ela estava escondendo a menina debaixo da cama. Os bandidos não viram a menina.

Aquelas horríveis cenas nunca sairam da mente de Maria Lucia.

Sua guarda ficou para sua parente viva mais próxima: sua tia. Seus tios já tinham 3 filhos. Sempre trataram a garota friamente apesar de saberem o que tinha acontecido. Maria Lucia até simpatiza com sua tia, que nunca parava em casa porque trabalhava manha, tarde e noite. Mas odiava seu tio, que vivia xingado tudo verbalmente. E seus primos agiam como se ela nem existisse. Maria Lucia sentia-se completamente sozinha naquela casa. Refugiava suas lágrimas lendo e cantando. Tinha uma bela voz, mesmo que não soubesse disso. Na escola era uma garota sociável. Só tinha realmente uma garota a quem considerava amiga: Fabiola.

Aos 15, era uma garota relativamente recuperada de seus traumas. Teve 3 namorados. O primeiro a traiu com outro menino. O segundo traiu sua confiança contando um segredo que ela tinha a todos a quem conhecia. Mas sua maior decepção foi o terceiro. Quando ela estava indo a casa de seu terceiro namorado, que junto com Fabiola eram as únicas pessoas em quem ela confiava, os outros dois apesar de a trairem fortemente, ela tinha algumas discofianças... Mas não de seu terceiro namorado. Ela tinha entrado naquele amor em que ela tanto acreditara com seu corpo, alma e tudo o que ela acreditava sobre o amor. Mas ao chegar na casa dele (ela roubara uma das 3 chaves da casa sem ele perceber) para mostrar uma almofada com os dizeres "EU TE AMO" que ela mesma tinha costurado. Ao entrar na casa de seu querido namorado. Ela o viu dando uns amassos em Fabiola no sofá.

Aquela cena nunca saiu da mente de Maria Lucia.

A partir daquele momento ela virou ahumana. Não havia mais nada na humanidade em que ela acreditasse. Claro que além dos motivos já citados houve outros motivos vistos na tv e lidos nos jornais. Mas naquele momento ela perdeu todo o sentido de humanidade que havia nela. O que seria ahumanidade? É quando a pessoa deixa de ver a humanidade como algo especial. Como algo "superior". Como algo bom. E começa a ver a humanidade como algo ABAIXO dos outros animais. Porque abaixo? Os outros animais só matam para se proteger ou pela sobrevivência. Não matam por dinheiro como os humanos. Não matam por prazer como os humanos.

 Ela correu para a floresta mais próxima. E os dóceis animais chegaram a ela. Com o tempo ela já havia aprendido a lingua dos animais. Ela gostava de traduzir livros do português para as diversas linguas existentes dos animais da floresta. Até que ela juntou a lingua dos animais e fez uma só: Animalês, que seria a lingua oficial da floresta. Através dos animais que migram, de forma que os humanos não percebem, o animalês logo se tornou a lingua universal por todo planeta terra. Quantos livros ela traduziu para aquela lingua. E os aniamais cada vez mais rápidos aprendiam a falar e escrever naquela língua. E eles também começaram a escrever obras literários, não ao estilo dos humanos, claro. Mas ao próprio estilo da espécie. Livros muito bons, que sabiam transmitir a dramaticidade, sensibilidade e selvageria dos animais. Os animais contantemente faziam reuniões, de escalas diferentes para que predadores e "caças" não se juntassem. Mas Maria Lucia sempre percebia "O ser humano é apenas um animal muito arrogante". Uma vez enquanto lia um dos livros de um dos seus animaizinhos da floresta. Ela começou a cantorolar. Os animais ficaram encantados com aquela bela voz.

Criou-se um coral de animais. E eles cantavam maravilhosamente. E alguns também mostraram que sabiam compor belamente. Era uma música da floresta, mas não deixava de ser bela e de ter momentos dramaticos e momentos agressivos.

Logo a sociedade animalística começou a crescer e se desenvolver... Ou pelo menos era isso que Maria Lucia achava. Logo criaram inventos tecnológicos. Logo criaram uma civilização. Logo criaram-se condutas morais, ética e outros assuntos filosóficos. Estava tudo lindo.

Mas Maria Lucia começou a perceber que os animais estavam começando a virar humanos. A ver a coisa como humanos, a ganhar humanidade. Começar a matar por coisas menores. Começar a brigar por coisas menores. Começar a tramar, trair, conspirar e logo a criar um submundo. Logo havia classes que se consideravam superiores a outras. Praticando os diversos tipo de preconceitos às outras. Eles estavam muito humanos pro gosto de Maria Lucia. Tudo estava se tornando sordido, peverso e do mesmo modo que ela via a sociedade humana. Ela queria de novo a ahumanidade.

Ela pegou todos os desenvolvimentos tecnologicos e psicológicos dos animais e os quebrou e destruiu e os levou abaixo com a ajuda de alguns que também não estavam gostando daquilo. Queria eles do jeito que os encontrara. Quando conseguiu, sorriu para a sociedade pura dos animais. Eles estavam ahumanos outra vez.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A História de Clarice

Era uma vez Clarice, nascida no reino Inadasis, um belo belo e rico reino. Jardins maravilhosos com plantas cortadas no formato de dançarinas, que dançavam; no formato de animais; que falavam e no formato de seres inomináveis, que faziam suas inominavidades. O céu era hora azul-brilhante-reflexivo, hora rosa-sonhador, hora branco  incandescente, hora azul-escuro-sombrio-misterioso-encantador. O vento as vezes cantava e dançava uma melodia doce, as vezes cantava e dançava uma melodia agressiva e as vezes cantava e dançava uma melodia nem exatamente doce, nem exatamente agressiva nem exatamente alguma palavra existente. Ele só a cantava e dançava e não precisava criar um nome para seu estado de espírito. Era um reino com os mais variados seres, os mais variados lugares e os mais variados viveres.

Ela tinha uma bela mãe um belo pai. Seu reino era constantemente invadido por criaturas perigosas as quais ela, como uma destemida princesa tinha que enfrentar.
Mãe: - Oh não!
           Chegou o oruptalyão
           Com suas labaredas de fogo
           Com a destruição provocada
           Sem esforço
           suas labaredas aladas
           Crueldade que não conhece limites
           Força que não conhece limites
           O que faremos?
           Como vai ficar o reino?
           Como salvaremos?
           Aqueles cujo feito
           Está no coração puro
           Ficarão então em apuros?
           Temos que salvar nosso povo!
           Das garras desse destruidor fogo!

Clarice: Não se preocupe
            Minha querida mãe
            Na coragem do açude
            do coração que nada arranhe
            Eu lutarei com esse monstro!
            Em nome de nosso povo!
            Matarei esse monstro!
            Mesmo que preciso utilizar o osso
            o esqueleto do combate
            do osso que a maldade mate
            E que traga a paz!
            A nosso povo que sempre merece mais!

Em um combate épico com direito a luta, sangue e dor. Clarice vence mais uma batalha. E volta amada por todos. As roupas de seus combates eram de anéis de metal mas sempre estilosas. Neste ela lutou com uma armadura em formas geométricas arco-irizadas e com asas de borboletas, além de sapatos de raios-lazeres.
Lutava com monstros assustadores, com pelos menos 30 metros de altura (mas a média era 134,5 m). Combates energéticos,  orquestrais e tribalíticos. As vezes ela corria tanto que voava. Bradava tanto sua espada que sua espada olhava. Sua espada ganhava vida e falava. Enquanto o céu cantava. A vitória das batalhas era comemorada com uma sinfonia de pássaros e as árvores que  pessoalmente dançavam como cheerleaders e seus galhos formavam a letra da canção que os rouxinóis declamavam-cantando.

Mas seu mais difícil combate estava por vim. Seus pais vieram a ela com uma expressão austera e compreensiva. Sua mãe com a voz mais doce falou:
-Minha filha
 Minha querida filha!
Temos que te enviar
 Para a terra
 E lá você terá
que completar uma missão
 chamada vida
 amanhã será a partida
 Não imaginas como dói nosso coração!
 Mas você nascerá em outro lugar
 serás concebida
 Terá que saber usar
 sua lição de vida
 Mas não se preocupe
 Porque toda noite ao dormir
 Caso o portal do sonhos você use
 Você virá para aqui
 Estaremos com você
 minha querida
 Até o amanhecer.

Seus pais lhe deram um beijo de amor na testa. Clarice estava com seus olhos estupefatos. Mas não havia nada que pudesse fazer. Então se dirigiu ao portal das coisas que na terra iriam nascer. Ela foi concebida. Sua mãe terrestre se chamava Eleonora. Estranhamente muito parecida com sua mãe de Inadasis. Pode-se dizer que Clarice não se lembra muito de seus primeiros 5 anos terrestres. Se lembrava apenas de como se sentiu estranha no seus primeiro dia de escola e como se sentiu aliviada ao voltar a Inadasis a noite; e tambéme algumas imagens abstratas que só as crianças podem ter.

Depois disso até os 12, só lembrava de quando se sentia insegura, deslocada e envergonhada na sua classe escolar. Apreciava a solidão. A solidão pelo menos era compreensiva com ela. Clarice se refugiava na música, nos livros e em Inadasis.

Aos 13 anos, o coração de Clarice sentiu algumas batidas mais fortes. Conheceu seu primeiro amor. Era um garoto sonhador, belo em seus olhos melancólicos e alegres. Tinha as fofocas das nuvens em suas orelhas. Ele e ela teriam tudo para ter dado certo. Mas algo, alguma força, alguma coisa... Seja lá o que for... Simplesmente... era algo que não deveria ser. E o coração do garoto não bateu mais forte por Clarice. Ela não chorou nem gritou. E suas lágrimas secas foram expelidas e aliviadas ouvindo o coral do bater das asas das borboletas de Inadasis cantarem. No dia seguinte estava renovada, com o coração costurado com a linha do sentimento (que não tem nome, mas o sentimento que se tem quando as coisas sofridas passam e viram memórias). Muitas vezes ela preferia estar em Inadasis do que está na terra. Mas sua mãe de Inadasis sempre dizia:
-Não podes passar mais que a noite aqui.
 Ainda tem uma missão a cumprir.
 Te amo minha querida
sempre estaremos aqui
 quando o sono da noite fluir
 virás a mim
Mas quando o sono terminar
 A terra terás que voltar.

 E abraçava-a junto ao amor maternal. E as 6:30 da manhã Clarice voltava, meio a contragosto através do som do despertador, à terra. Morava sozinha com Eleonora, seu pai terrestre a abandonou antes dela vir a terra. Clarice não se importava com isso, Eleonora sempre dizera que antes dela nascer o pai recebera um pacote chamado responsabilidade e como ele não tinha, ele partiu. Mas com 13 anos Clarice já sabia que ele, enquanto namorava Eleonora, simplesmente engravidara Eleonora e não quis assumir Clarice. Ou algo assim. Talvez se possa contar isso de maneira mais dramática ou mais melancólica, ou mesmo dando uma carga de compreensividade ao pai. Mas para Clarice isso pouca importava. Era assim que ela via isso e não pensava muito nisso a maior parte do tempo. Gostava muito de sua mãe terrestre, mas pouco a via, o trabalho a chamava noite e dia, 4 trabalhos ela tinha. Para dar o melhor que pudesse a Clarice.

A adolescência da Clarice... Talvez não seja necessário falar muito sobre isso. Foi meio histérica, meio melancólica, meio depressiva. Ou seja, uma adolescência normal. Diga-se que em suas crises, não via hora do anoitecer, para sonhos em Inadasis ter. As vezes grandes criaturas monstruosas tinha que corajosamente abater. E nos momentos de alegria simplesmente fazia o que seu coração expelia. E em Inadasis suas emoções de novo escapuliam. Foi tudo mais ou menos assim... Mais ou menos assim.

Até que completou 18 anos. Eleonora, com algumas economias fez uma festa para Clarice. No passar pela adolescência Clarice conheceu muitas pessoas, e conseguiu uns poucos amigos e muitos colegas com os quais tinha relações amigáveis. A festa foi alegre, divertida, inesquecível. Não porque tivesse grandes atrações ou fosse em um lugar de grande estrutura. Mas porque os anseios naturais dos jovens ali presentes fizeram o que tinham vontade. Seus corpos dançaram. Suas almas contaram piadas sem graça mas que no momento tiveram muita graça. Clarice estava muito feliz naquela noite. Quando a festa acabou, seus amigos e colegas voltaram para casa. E Clarice e Eleonora estavam fazendo isso também.

Clarice não esperava por aquele rasgo de morte em sua alma viva.

Havia sangue de Clarice no carro. Havia sangue de Clarice nas mãos de Eleonora que em seu instinto materno tentou parar o sangramento.

-Meu Deus!
Minha filha foi baleada!
Como isso foi possível meu Deus?
Uma bala perdida
Bem aqui...
Que isso não tire sua vida...
Se não...
Nunca mais irei sorrir...

Clarice estava em Inadasis. Seus pais estavam novamente austeros. Tudo lá estava silencioso agora. Não haveria nem um exato motivo para tristeza nem um exato motivo para felicidade. Apenas um momento e estar, ser e transformar.A mãe lhe proferiu:
-Oh! Minha querida!
Tivemos que fazer uma terrível escolha.
Agora tens sua vida.
Mas esta é a última vez que vens para aqui
Para salvarmos você
do rasgo da morte
Tivemos que banir
sua alma daqui
Para que seu corpo não recebesse a morte
Nunca mais poderemos te visitar em seus sonhos
Nunca mais nos verás em seus sonhos
Na terra você ficará
E torceremos para que lá
de algum modo salva e feliz você estará.

 Clarice chorou, chorou e chorou. Abraçou cada habitante de Inadasis pela última vez. E quando foi abraçar e beijar sua mãe de Inadasis pela última vez, esta proferiu para consolar:

- Não se preocupes meu amor
 Algo daqui continuará em seu coração
 Mesmo que a vida faça esquecer, quase sem dor
 o que aconteceu aqui, em seu coração
 Algo daqui estará com você
 Meu amor, mesmo que as lembranças não durem até o amanhecer
Algo, sem memória (talvez um sentimento) daqui estará com você.

Ao acordar, estava com Eleonora em um hospital. Sua mãe estava com um sorriso de alívio. Abraçaram-se.

Diz-se que a partir desse dia. Clarice ficou de algum jeito mais fria. Não seu sorriso, não seu coração, mas sua alma. Diz-se que ela deixou seu lado sonhador depois do tiro da realidade. Em Inadasis matava monstros, dragões e muito mais seres perigosos e fantásticos. Mas na terra não resistiu a bala que nem a ela era destinada. Alguns falam que  a partir daquele dia ela ficou mais chata e previsível. Outros que ela ficou mais séria. Outros que algo nela mudou, mas que não sabiam o que. Outros que ela ficou "normal".

Mas alguns falam que ela simplesmente virou uma adulta.