sábado, 5 de junho de 2010

Ahumanidade

Foram vários os motivos que tornaram Maria Lucia ahumana. O primeiro provavelmente foi aos 5 anos, quando ela, ao olhar na janela de sua casa, viu 6 garotos se divertindo  torturando e matando um pobre cachorro vira-lata. Era um belo vira-lata, tinha pêlos de 3 cores diferentes, uma bela pelagem, tinha olhos inocententes de um ser que apenas estava começando a conhecer as maldades do mundo. O sangue do pobre vira-lata estava avermelhando o cenário, seus latidos desesperados que se misturavam com as risadas dos meninos transtornavam Maria Lucia.Em vãoela  correu o mais rápido possível enquanto suas lágrimas escorriam em seus rosto infantil. O chegar na cena do crime os meninos deram a última pedrada e o cachorro deu seu último latido. Maria Lucia empurrou o menino o mais forte que seus braços infantis conseguiram e acaricinhou a cabeça do vira-lata, seus braçinhos abraçaram aquela cabeça cujos olhos que não viam mais ainda estavam abertos. Ela beijou aquele sofredor, e se perguntou em sua inocencia infatil porque ele não estava mais se movendo. Ela não conseguia entender que a linha que o segurava a esse mundo tinha sido rompida. Os meninos correram rapidamente deixando a menina a sós com o vira-lata. Seus pais, com faces preocupadas, perceberam que Maria Lucia não estava mais em casa. Ao encontrarem, ela estava com o vestido branco tornado vermelho com o sangue do vira-lata, e  seus rostinho infantil duplamente vermelho, das lágrimas e do sangue. Seus pai logo a puxaram, ela queria continuar abraçada ao cachorro. Enquanto mamãe dizia: "Ele está morto, minha querida, ele está morto... não há nada que possamos fazer...". Maria Lucia gritava em soluços "Mamãe eu vi garotos batendo nele com uma pedra mamãe... Afugentei eles, achei que ele não iria morrer com as pedradas... só ficar machucado... Mas que como nos desenhos animados ele voltaria...". Sua mãe respondia enquanto a acaricinhava e aninhava em seu colo "A vida as vezes é difenrente dos desenhos... Os animais e as pessoas morrerm e vão para o céu...".

Mas aquela horrível cena nunca saiu da mente de Maria Lucia.

Aos 12 ela viu seus pais serem brutalmente assasinados quando assaltantes explodiram a porta de sua casa para roubar 10 mil reais(pois boatos circulavvam dizendo que o casal adquirira essa quantia em um sorteio). Maria Lucia só não foi igualmente assasinada porque, quando sua mãe recebeu a primeira facada, ela estava escondendo a menina debaixo da cama. Os bandidos não viram a menina.

Aquelas horríveis cenas nunca sairam da mente de Maria Lucia.

Sua guarda ficou para sua parente viva mais próxima: sua tia. Seus tios já tinham 3 filhos. Sempre trataram a garota friamente apesar de saberem o que tinha acontecido. Maria Lucia até simpatiza com sua tia, que nunca parava em casa porque trabalhava manha, tarde e noite. Mas odiava seu tio, que vivia xingado tudo verbalmente. E seus primos agiam como se ela nem existisse. Maria Lucia sentia-se completamente sozinha naquela casa. Refugiava suas lágrimas lendo e cantando. Tinha uma bela voz, mesmo que não soubesse disso. Na escola era uma garota sociável. Só tinha realmente uma garota a quem considerava amiga: Fabiola.

Aos 15, era uma garota relativamente recuperada de seus traumas. Teve 3 namorados. O primeiro a traiu com outro menino. O segundo traiu sua confiança contando um segredo que ela tinha a todos a quem conhecia. Mas sua maior decepção foi o terceiro. Quando ela estava indo a casa de seu terceiro namorado, que junto com Fabiola eram as únicas pessoas em quem ela confiava, os outros dois apesar de a trairem fortemente, ela tinha algumas discofianças... Mas não de seu terceiro namorado. Ela tinha entrado naquele amor em que ela tanto acreditara com seu corpo, alma e tudo o que ela acreditava sobre o amor. Mas ao chegar na casa dele (ela roubara uma das 3 chaves da casa sem ele perceber) para mostrar uma almofada com os dizeres "EU TE AMO" que ela mesma tinha costurado. Ao entrar na casa de seu querido namorado. Ela o viu dando uns amassos em Fabiola no sofá.

Aquela cena nunca saiu da mente de Maria Lucia.

A partir daquele momento ela virou ahumana. Não havia mais nada na humanidade em que ela acreditasse. Claro que além dos motivos já citados houve outros motivos vistos na tv e lidos nos jornais. Mas naquele momento ela perdeu todo o sentido de humanidade que havia nela. O que seria ahumanidade? É quando a pessoa deixa de ver a humanidade como algo especial. Como algo "superior". Como algo bom. E começa a ver a humanidade como algo ABAIXO dos outros animais. Porque abaixo? Os outros animais só matam para se proteger ou pela sobrevivência. Não matam por dinheiro como os humanos. Não matam por prazer como os humanos.

 Ela correu para a floresta mais próxima. E os dóceis animais chegaram a ela. Com o tempo ela já havia aprendido a lingua dos animais. Ela gostava de traduzir livros do português para as diversas linguas existentes dos animais da floresta. Até que ela juntou a lingua dos animais e fez uma só: Animalês, que seria a lingua oficial da floresta. Através dos animais que migram, de forma que os humanos não percebem, o animalês logo se tornou a lingua universal por todo planeta terra. Quantos livros ela traduziu para aquela lingua. E os aniamais cada vez mais rápidos aprendiam a falar e escrever naquela língua. E eles também começaram a escrever obras literários, não ao estilo dos humanos, claro. Mas ao próprio estilo da espécie. Livros muito bons, que sabiam transmitir a dramaticidade, sensibilidade e selvageria dos animais. Os animais contantemente faziam reuniões, de escalas diferentes para que predadores e "caças" não se juntassem. Mas Maria Lucia sempre percebia "O ser humano é apenas um animal muito arrogante". Uma vez enquanto lia um dos livros de um dos seus animaizinhos da floresta. Ela começou a cantorolar. Os animais ficaram encantados com aquela bela voz.

Criou-se um coral de animais. E eles cantavam maravilhosamente. E alguns também mostraram que sabiam compor belamente. Era uma música da floresta, mas não deixava de ser bela e de ter momentos dramaticos e momentos agressivos.

Logo a sociedade animalística começou a crescer e se desenvolver... Ou pelo menos era isso que Maria Lucia achava. Logo criaram inventos tecnológicos. Logo criaram uma civilização. Logo criaram-se condutas morais, ética e outros assuntos filosóficos. Estava tudo lindo.

Mas Maria Lucia começou a perceber que os animais estavam começando a virar humanos. A ver a coisa como humanos, a ganhar humanidade. Começar a matar por coisas menores. Começar a brigar por coisas menores. Começar a tramar, trair, conspirar e logo a criar um submundo. Logo havia classes que se consideravam superiores a outras. Praticando os diversos tipo de preconceitos às outras. Eles estavam muito humanos pro gosto de Maria Lucia. Tudo estava se tornando sordido, peverso e do mesmo modo que ela via a sociedade humana. Ela queria de novo a ahumanidade.

Ela pegou todos os desenvolvimentos tecnologicos e psicológicos dos animais e os quebrou e destruiu e os levou abaixo com a ajuda de alguns que também não estavam gostando daquilo. Queria eles do jeito que os encontrara. Quando conseguiu, sorriu para a sociedade pura dos animais. Eles estavam ahumanos outra vez.

2 comentários:

  1. Você tá me deixando muito reflexivo toda vez que eu venho aqui. É como ir a um show de Jazz, você demora a voltar a realidade, sabe? Não tô dizendo que o que você diz não é real! Justamente o oposto, o seu blog tira o efeito Jazz da minha cabeça! Sacou? ^^

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  2. Macacos e golfinhos chegam muito perto disso e ninguém reclama. É nós que voamos, araras!

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