Meus inimigos começaram dizendo que
varreriam os vermelhos.
Em um primeiro momento, vermelhos
eram entendidos como todos, com ou sem
labareda,
que se consideravam de esquerda,
principalmente os vivos que tentaram
melhorar algo
no meu país tão maltratado
e a memória
de grandes que edificaram com glória
campos floridos universais
com ares de eternidade e igualdade
nas áreas da filosofia, arte e educação.
(Ao contrário dos meus inimigos bestiais,
que desejam a destruição
e os gritos nos porões).
Porém parte dos votantes, talvez ligados
por uma deturpação
do que realmente é comunismo,
talvez ligados por uma lavagem cerebral
de notícias falsas, fabricantes de
abismo,
não ligaram: não era com eles,
assim como as minorias ameaçadas
também não eram eles.
Assim, votaram nos meus inimigos,
ao lado daqueles que caíram em um
discurso demagogo,
cegos de ódio sem ver que votavam em
algo pior.
Outros votantes, simplesmente foram no
branco ou nulo,
com diferentes noções do que estava em
jogo,
com a indiferença ou a desesperança de
mais um tijolo no muro.
E outra parte dos votantes – como eu - estava
inteiramente
apavorada, já prevendo uma tragédia ulterior.
Em um segundo momento, vermelhos
eram todos os que, doutos ou leigos,
defendiam qualquer
tipo de justiça social,
igualdade ou
direitos humanos.
Meus inimigos são
tão cruéis que os planos
eram de uma
ignorância tão brutal
que tentaram
fazer acreditar
que era
justificável tirar
direitos dos que
mais precisavam
em prol da
economia.
Tudo pela
economia!
Contudo, eis um spoiler desta triste elegia:
com meus
inimigos a economia
só piorou, em níveis estratosféricos.
Em parte, por serem ao mesmo tempo
ignorantes e maléficos
de uma forma que nem o mercado aguentou –
logo o mercado que estava acima das vidas
e valia todo humano lamento! –
e, de outra parte, por descobrirem
que as teorias econômicas redigidas
que acreditavam não funcionam como esperavam:
tiraram direitos e ferraram a economia.
O dinheiro saiu dos CPFs, da saúde e da educação
e foi tanto para um novo velho tipo de corrupção
quanto para um mercado internacional sem coração.
Parece que meus inimigos ignoram as raízes
do subdesenvolvimento, as vezes citando Mises,
mas também não se sabe o que está oculto:
seria uma conspiração com mais por trás,
ou um golpista antiga vulto
de 1964 ou apenas mais um burro tipo de ladravaz?
Não demorou muito - na verdade,
ainda foi durante as eleições-
para comunista ser,
independente de políticas posições,
qualquer um que por sensatez
fizesse qualquer objeção aos meus inimigos.
Deste modo, a lista ficou gigante e cheia de artigos
científicos de esquerda e de direita
ignorados pelo gado e robôs da ignorância macabra,
que pelo visto não se ajeita.
Meus inimigos tem humor de quinta série B
como nem Dante Alighieri
poderia imaginar ao escrever
o inferno da Divina
Comédia,
pois agora vivemos o inferno da Macabra Comédia
onde o desprezo pela vida humana
tem forma de bestantes que fonoclamam
(em um navio naufragante) poder.
Assim, o governo mais parece uma desciclopédia
em forma de distopia e catástrofe,
onde o câncer da crueldade já entrou em metástase.
Como boa parte do resto do mundo
estamos enfrentamos o mal contagiante
de uma doença pouco democrática
que mata ricos e (mais ainda) pobres.
Uma epidemia que expôs de modo profundo,
de uma forma não tão vista antes,
a grande importância e as problemáticas
- que os jornais as vezes cobrem –
do sistema de
saúde e das vidas não muito midiáticas.
O isolamento em
nossos tempos de epidemia
é uma luta
contra o colapso,
apesar dos altos
custos menores que a vida.
Porém, esta brasileira
elegia
vem da guerra,
já ferida,
desde (antes d)o
mês de março,
contra a
epidemia e o outro vírus
brutal que são
meus inimigos
que estão no
poder
e fazem os
maiores absurdos
sem sequer
temer.
Meus inimigos
usurparam os símbolos da Nação
e, como cada vez
menos rédea,
a transformaram no
inferno de uma Macabra Comédia.
Sem respeitar a
Constituição
meus inimigos
transformaram quase todos em vermelhos
a serem varridos
por política, doença ou mesmo economia.
Meus inimigos
agem com incompetência, maldade e zombaria
enquanto os
caixões se amontoam, os verdadeiros heróis lutam,
e quase todas as
áreas gritam...
[...]